Navegação
  .: Capítulo 01
  .: Capítulo 02
  .: Capítulo 03
  .: Capítulo 04
  .: Capítulo 05
  .: Capítulo 06
  .: Capítulo 07
  .: Capítulo 08
  .: Capítulo 09
  .: Capítulo 10
  .: Capítulo 11
  .: Capítulo 12
  .: Capítulo 13
Interação
   .: Contato
  .: Fórum Meirol
 
    

5. A comitiva Chega até os Asnarlahals

   A preocupação de que os manvatopias delatariam a situação aos dole-mundii fez que a comitiva liderada por Meirol apressasse o galope.
“Quem mora ao norte dessas terras?” Perguntou Meirol, e Greiteli respondeu:
“São os tassu-assus. Como vocês puderam ouvir anteriormente, ele são hostis aos eromês.”
“Não sabemos que outros perigos nos esperam deste lado do Vantaás-Eás. Vive que tribo do outro lado do rio?”
Greiteli não soube responder, e Aduneius disse que passou por ali, mas não vira viva alma nem residência naquelas terras.
“Atravessaremos o rio e pernoitaremos no outro lado, e evitaremos o território dos tassu-assus” disse Meirol, “Porém recomeçaremos a cavalgada antes da alvorada.”
    Procuraram uma parte do rio que pudesse ser atravessada a galope e encontraram. Em certo momento os cavalos hesitaram, pois o rio começou a afundar, mas logo as águas estavam rasas novamente.
   Chegaram no outro lado e escolheram novamente o local para armar as barracas, e os quatro carregadores novamente ficaram ocupados. Os demais integrantes discutiam o acontecido e as conseqüências. Quin-Néser e Caldiens foram bater a região.
   Logo a noite caiu, e os homens sentaram-se ao redor de uma fogueira e Quin-Néser começou a contar o relato da batalha contra os achis. O Grande Líder dos dimbols solicitara ajuda de Handaf, e este enviou algum auxílio contra os achis, e Quin-Néser fora enviado à batalha. Detalhes interessantes da luta foram relatados com sentimento e exatidão. A história de 300 dimbols que perderam uma batalha para 63 achis, que encurralados subiram uma elevação de mata densa e armaram armadilhas atrás de si, envenenando muitos dos dimbols, fazendo outros cair em buracos e serem perfurados por lanças lá colocadas e ainda outros cortando gravemente o pé, sendo depois carregados por seus companheiros atrasando-os. Os maztenas sentiram-se orgulhosos em saber que seus arcadãs viraram a guerra, quando os dimbols foram a campo aberto para uma última batalha. Estavam já na proporção de 1 para 3 achis, e os achis aparentemente estavam pressionando Daverás para os ajudar na batalha, o que aumentaria ainda mais o poder deles.
    Estavam naquela hora em campo aberto, e os dimbols desejavam ir à batalha e morrer honradamente, numa corrida ao suicídio, numa luta sem esperança.
  Nesse ponto, um líder de exército maztena organizou arqueiros de tal forma que vários achis foram alvejados muito antes atingirem os dimbols, e a vantagem numérica mudou de lado ... os maztenas ajudaram os dimbols a alcançar a vitória.
   A noite já estava avançada quando Quin-Néser terminou o relato. Meirol disse à Caldiens que ele ficaria de guarda um pouco, para que os dois guerreiros tivessem, dessa vez, uma noite bem dormida. Enquanto todos os outros dormiam, porém, Meirol percebeu que Servensaus permanecia acordado. “Estou sem sono” disse ele, respondendo à um aceno de Meirol.
“Sente-se aqui comigo então, vamos conversar em tom baixo”
   Servensaus foi. E iniciou-se uma agradável conversa a respeito de lendas inventadas por Servensaus.
“Uma delas” disse ele “é a minha preferida. Estou inventando um novo planeta.”
“Ah é, e como é o nome ... Panol?”
“Não ... Como chamamos o solo de terra ... as terras da tribo tal, as terras da família tal, chamei de planeta Terra.”
“Criativo ... o que eles fazem lá?”
“Ainda estou bolando tudo, e muito pode ser alterado. Já inventei mais de 2000 anos de história para a gente de lá. Várias nações, várias guerras. Mas pretendo escrever sobre grandes navegações que os terranos farão e numa dessas navegações encontrarão um país chamado Brasil. Este país trará paz ao mundo, mas fará isso através das armas.”
   Servensaus continuou a contar sobre suas idéias, e quando ele falou do esboço mental que tinha para um jovem chamado Alexandre, o grande, Meirol disse:
“Isso tira o senso de história real para sua lenda, imaginar que um único homem conquistaria tantas nações e venceria tantas batalhas. Também, essa história de Brasil e paz não combinam com a realidade, ... veja a nossa realidade Servensaus. Ninguém quer a guerra, mas ela existe.”
“Se ela existe, dizer que ninguém a quer é tolice. Mas talvez você tenha razão ... vou reinventar esse futuro nas minhas invenções. Mas não mexerei no que penso para Alexandre. Os maztenas provaram que façanhas militares podem virar uma batalha que, numericamente, está contra você.”
“Sei.”
“Um jovem terrano que inventei é um criador de histórias também.”
“Quer dizer que você inventou um criador de história? Então você terá que inventar uma história que para ele é realidade, e depois as histórias que ele criaria .. mas na verdade tudo é lenda. Curioso!”
“Mais curioso ainda é o fato de que ele inventou uma Panol. Igual a nossa ... tem maztenas, Handaf, dunos, eromês, asnarlahals e tudo mais.”
“Quer dizer, você inventou um cara e um outro mundo para ele, daí ele inventa um mundo que é o nosso mundo. Para ele, a Panol é imaginária e a Terra é real. Mas na verdade Panol é real e o planeta Terra é imaginário. Se ele inventasse um Servensaus na Panol dele, para aquele homem a Panol era real, e a Terra que esse Servensaus inventou seria imaginária. Daí, se isso fosse um ciclo contínuo, seríamos imaginário e reais alternadamente.”
“É” disse Servensaus rindo, “mas não esqueça que a Terra é que é imaginária, e a Panol é real”
“Agora não sei mais nada” disse Meirol, em tom de brincadeira.
   A noite se passava e Servensaus e Meirol iam dando contornos mais bem-definidos à este lugar imaginário. Logo, Aduneius acordou e pôs-se a vigiar o acampamento no lugar de Meirol, e ambos foram dormir.
   Ao amanhecer, se foram. Como o comerciante Le-in ia à frente deles com a pedra Sácer em passo de caravana, eles teriam quase o alcançado, não fosse os contratempos com os eromês. Agora, cavalgavam com alguma pressa e iam contornando as terras dos tassu-assus. O terreno possuía um vale úmido, apesar de lá não correr rio algum. Subiram, desceram, atravessaram o vale, subiram novamente e desceram ... aí já estavam a meio caminho da tribo sul dos Asnarlahals. Continuaram cavalgando por terras onde o silêncio é o Grande Líder. Ao seu lado esquerdo podiam divisar as matas altas que impedem que vejam a vegetação rasteira da Amandii. Ao lado direito estava o Vantaás-Eás.
Cavalgadas depois, chegaram até os primeiros habitantes asnarlahals. Estes viviam deste lado do rio, mas a tribo propriamente dita ficava do outro lado. Conversaram com os asnarlahals, que os interrogaram muito, tentando saber quem eram e para onde iam.
“Os asnarlahals vigiam os acontecimentos por aqui e se mantém informados sobre quem passa por essas terras. Esse interrogatório todo provavelmente é reportado aos líderes do outro lado do rio. Greices também interrogava forasteiros, para depois informar Handaf das movimentações nas fronteiras. Se os levinotes passaram por aqui, os asnarlahals devem ter percebido. Precisamos conversar com a liderança deles. Como atravessaremos esse rio?” Disse Meirol.
“Ora Meirol, pergunte a estes sobre os levinotes, pois se estes são os que reportam tudo, estão em melhores condições de dizer algo.” Sugeriu Greiteli.
“Não, Greiteli, É possível que outros asnarlahals, em outro ponto, tenham avistados os levinotes, enquanto estes talvez nem os tenham vistos. É para onde aflui toda informação que devo ir.”
Os asnarlahals não queriam atravessá-los sem pagamento em moedas de pratas. Nenhum maztena, porém as possuía. Fora um descuido de Handaf não providenciar-lhes isso. Um dos asnarlahals apontou para o cavalo de Handaf e balbuciou algumas palavras que Meirol não pôde entender.
“Querem o crina dourada!” Disse Aduneius.
   Meirol desesperou-se. Desejava entregar o cavalo a Handaf, se pudesse ter sucesso em sua jornada. Ele pensou muito, franziu a testa, coçou os olhos, pôs as mãos atrás, na nuca, e estava se acostumando com a idéia de desfazer-se do cavalo.
   Ora, aconteceu que um outro homem que possuía um pequeno barco era também comerciante de cenouras. A espécie de cenoura asnarlahal era fina e comprida, mas de bom aspecto. Aduneius aproximou-se e percebeu que este cometia um grande erro em suas vendas. O comerciante cobrava as cenouras por ráshnaki. Um ráshnaki era a quantidade de cenouras que dava para amarrar em um cordão de 30cm. Cada ráshnaki era tanto, mas certos homens traziam um cordão de 60cm e pagavam pelas cenouras o dobro do que pagariam por um cordão de 30cm. Chamavam o cordão de 60cm de ráshnaki duplo.
Na língua comum, Aduneius conversou com o comerciante, e dizendo:
“Ora asnarlahal, tu estás perdendo dinheiro e não te apercebes?”
O homem o olhou espantado tanto pela forma direta que este estranho lhe dirigia a palavra, como pelo que dizia.
“Eis que tenho comigo nove colegas, e nós dez temos que atravessar o rio. Te mostrarei que estão te enganando, e tu, da tua parte, providenciará para nós uma travessia segura”
   O comerciante concordou e Aduneius passou a explicar-lhe através de desenhos e contas, que um ráshnaki duplo tinha quatro vezes mais cenouras que um ráshnaki simples. Depois, amarrou as cenouras das duas maneiras e contou as cenouras contidas nos dois diferentes ráshnakis. O asnarlahal ficou estarrecido. Os compradores já deviam ter se dado conta da vantagem do ráshnaki duplo, por isso cada vez mais esse último era mais solicitado. O homem curvou-se até o chão em gratidão à Aduneius (e ele, cheio de pose, gostou da bajulação). Depois, o homem chamou seu servo mais experiente e ordenou que transportasse os maztenas. Torna-se desnecessário dizer que os demais ficaram curiosos; e Meirol, orgulhoso de sua escolha (de tê-lo trazido junto). Durante a travessia do rio Vantaás-Eás, Aduneius teve de explicar aos demais por que todos estavam sendo transportados “de graça”.
   Do outro lado do rio, agradeceram a travessia e por indagações descobriram onde se ubicava o Grande Líder dos asnarlahals. Muitos deles sabiam falar à maneira dos maztenas. O comércio fazia algumas imposições que os asnarlahals não se importavam em obedecer. Os maztenas estavam a pé, porque os cavalos não puderam ser transportados e Meirol deixou Bafor-Nul cuidando deles na margem oeste do rio. Caldiens e Quin-Néser estavam apreensivos, pois eram responsáveis em garantir a vida dos membros da comitiva, e lembravam que da vez anterior em que entraram em solo dominado (as terras eromês) a morte fez-se quase certa.
Com certa dificuldade em caminhar pelas muitas e bem povoadas ruelas (para eles, um tanto incomuns), Meirol e seus companheiros encontraram a edificação onde estava o Grande Líder asnarlahal. Pediram aos guardas permissão de ir até ele e perceberam que os mesmos não entenderam nada e ficaram com um aspecto agressivo por verem forasteiros às portas daquele edifício. Aduneius já estava prestes a conversar com eles na língua comum, quando Greiteli tomou a frente e falou algumas palavras aos guardas. Incrivelmente, um deles curvou-se perante Greiteli e saiu.
“Não esqueçamos que temos entre nós um homem de alta graduação” – Disse Servensaus.
  O guarda retornou e disse a Greiteli que outros assuntos urgentes ocupavam o Grande Líder dos asnarlahals e que eles seriam bem acolhidos em outro aposento, se desejassem esperar um pouco. Sentaram-se, foram bem servidos, e os corações deles passaram-se a alegrar-se com o bom vinho asnarlahal. Um asnarlahal com brincos de ouro estava por perto, sozinho, também esperando uma audiência com o Grande Líder. Vez por outra o olhar dele se encontrava com o de Meirol, e Meirol abaixava ou desviava o olho. O homem parecia curioso.
   “Bafor-Nul se deu mal” disse Alaicha. Lembrado disso, Servensaus recolheu um pouco da boa comida e pôs vinho numa bilha e guardou para o companheiro. Meirol então pôs-se a pensar alto:
“Que missão mais desorientada ... estamos perseguindo uma suposição, não sabemos com certeza para onde a Pedra foi, se estamos seguindo seus rastros corretamente, nem se os que estão no caminho podem nos dar boas informações. Dependemos de nossa própria esperteza coletiva, somos constantemente atrasados e um ataque dole-mundii logo será formado. Não vou mais esperar aqui.”
    Levantou-se como se aquela pequena espera o atormentasse mais do que a longa demora nas terras eromês. Nesse mesmo momento, pensando que os maztenas se iam, o homem se levantou bruscamente e estendendo a mão na direção de Meirol, ia dizer alguma coisa. Quin-Néser atirou-lhe um punhal que o prendeu pela túnica na parede, mas não o feriu. Ao mesmo tempo perplexo pela habilidade do maztena e assustado pela rapidez do ataque, o homem livrou-se da túnica presa na parede, só para ser preso nos fortes braços de Caldiens, que visivelmente irritado, perguntou o que ele ia fazer.
“Vá com calma grandalhão ... você está em solo asnarlahal. Sabes por acaso minha posição? Sabes quem sou? ... Você, o que faz aqui?” Perguntou apontando para Meirol.
“O que venho fazer aqui é problema meu. Há algo em que eu possa ser útil? Porque estás prestando atenção a nossos assuntos?”
“Digamos que assisti muitas negociações neste mesmo aposento. Muitas das quais pude tirar lucro, algumas nem tanto. Sou um rico comerciante asnarlahal e estou esperando para entrar perante o Grande Líder Djeiko-Bihel. Sabe, homens, vocês não são dos mais educados, e minha conversa com vocês não existiria se ela não interessasse a mim também.”
“Peço que nos perdoe. Estamos sob intensa pressão, numa situação delicada” – disse Meirol.
“Entendo ... vocês são maztenas? Se são, sei o que procuram ... a Pedra Sácer.”
    Um assombro tomou conta do grupo. Meirol arregalou os olhos no mesmo instante em que Greiteli botou a mão no peito e Servensaus na boca”
“Como sabe disso asnarlahal? Diga rápido!” – disse Caldiens, em tom ameaçador.
“Vá com calma grandalhão ... você está em solo asnarlahal. Sabes por ...”
“Por Handaf, vais começar com tua ladainha novamente? Qual é teu nome asnarlahal?” Perguntou Greiteli.
“Sendedcol é o meu nome.”
“Sendedcol? Mil desculpas senhor. Não sabíamos que estávamos diante de tão importante pessoa” Disse Greiteli, levemente curvando-se, e olhando para os demais continuou: “Ele é o senhor de alguns dos asnarlahals que nos visitam e compram, e vendem mercadorias para nós. Handaf aprecia muito as visitas asnarlahals.”
“Sendedcol – disse Meirol – Greiteli te respeita muito, pois ele é homem de alto escalão, e entende muito mais do que eu sobre muitos assuntos importantes. Eu, porém, entendo agora somente duas coisas. Tenho pressa, e o sumiço da Pedra Sácer era um segredo maztena. Como sabes algo sobre isso? Algum manvatopia passou por aqui?”
“Não diga que os manvas sabem sobre o assunto! Se sabem, é hora de Handaf se preparar para a batalha. É uma pena. Os maztenas são um povo interessante de se conhecer ... para mim em particular, significa um malogro inacreditável. Meus melhores negócios são realizados com os maztenas.
“Tenho uma esposa, uma pessoa inocente de todas as tolices dos homens que pisam no solo. Ela pode morrer nas mãos dos dole-mundii, e com ela milhares de outras mulheres e crianças, e você se preocupa com seu dinheiro?”
“Maztena, que tenho eu a ver com os erros de vossas tribos? Se tu não pode corrigi-los, posso eu? Mas eis que vos darei uma valiosa informação. Aqui, nesse aposento, como eu falava, levinotes receberam informações de como receberiam a Pedra Sácer. Contaram com a colaboração de um maztena desconhecido, um tal Tarastir (falava isso em tom de ironia, uma vez que Sendedcol sabia que Tarastir era filho de Handaf).”
    Os maztenas todos ficaram muito espantados com o que ouviram .. Greiteli mais que todos.
“Nossa sagacidade mostrou-se brumosa. Os homens de Tarastir não viram quem pegou a pedra? Como não, se foram eles mesmos que a tomaram! Teria sido justo se Handaf os matasse, ... a todos! – Disse Meirol.”
“Por isso Tarastir implorou pela vida de seus guardas! Ao encarar a morte alguém entre eles poderia implorar por sua vida delatando o mentor do roubo.” – Completou Servensaus.
“Deixem-me continuar” – clamou Sendedcol “éramos poucos nessa reunião. Parece que o organizador dela, que por prudência me pouparei de pronunciar o nome, desejou o mínimo possível de pessoas na reunião. Daí, sentaram-se conosco levinotes. Disseram que precisavam de uma informação, e que pagariam bem por ela. Queriam saber como obter a Pedra Sácer.
   Os levinotes são inteligentes. Sabem que os asnarlahals conhecem bem os maztenas, e que alguns asnarlahals venderiam até sua família para ganhar algum dinheiro. E de fato, por uma simples informação, os levinotes pagaram muito bem. Por um desses grandes infortúnios dos acontecimentos, solicitaram informações justamente para aquele comerciante que há tempos eu percebia que era visitado por Tarastir. Nunca soube porque Tarastir o visitava com freqüência, nem sobre o que falava, mas me pareciam lamúrias. Vim a saber numa reunião posterior, de sua própria boca, que Tarastir ambicionava o poder, mas seu pai estava propenso a escolher como sucessor um dos dois filhos mais velhos, ou um de seus conselheiros.
   Eu estava por aqui para falar com o Grande Líder sobre um problema meu. Ao me ver, porém, nosso amigo asnarlahal ficou feliz e de maneira um tanto apressada me chamou para a reunião, pois eu conhecia muito bem os maztenas. Me foi imposta duas opções ao participar da reunião: silenciar-me sobre o assunto fora dela, e participar dos lucros, ou denunciar tudo e pôr em risco a vida de minha família. Este comerciante era homem influente e poderoso, mais rico do que eu, capaz de comprar muitas testemunhas entre os grandes, para falarem falsamente contra mim. Participei da reunião, ouvi tudo, e não fui de ajuda. O comerciante sozinho verificou que ele sabia quem podia ajudar a roubar a pedra. O descontente Tarastir.
   O comerciante asnarlahal disse que os levinotes poderiam vir até as fronteiras maztenas em certo dia, em exato lugar e apanhariam das mãos de maztenas a prometida pedra. Fiquei pensando em como tal comerciante poderia dar tal garantia. Mas numa outra reunião nessa sala, fui novamente convidado a participar. Dessa vez Tarastir estava aqui. Foi quando soube de seu descontentamento. Fiquei surpreso quando ouvi que ele venderia a pedra aos levinotes. Ele venderia toda a sua tribo à guerra contra os dole-mundii, por relativamente pouco dinheiro! Não pude acreditar. Como Tarastir retirou a pedra tão bem vigiada do seu lugar eu não sei, mas sei por vocês que ele foi eficiente.”
“Foi fácil, ele era responsável pela segurança da pedra em alguns dias” – explicou Greiteli.
“O filho traiu a confiança de seu pai. Mas talvez vocês se perguntem porque fui convidado a ouvir o que Tarastir dizia. Pode parecer que Ojina correu um risco desnecessário, mas já que ele de maneira apressada me convidara para participar da primeira reunião, agora queria que eu participasse dessa segunda reunião também para que me sentisse cúmplice de tudo, e me calasse. Passei todos esses dias angustiado, desejando informações sobre a Pedra Sácer. Passei a ser vigiado por onde ia, e achei melhor andar escoltado por servos robustos. Queria informar o Grande Líder, mas temia a vingança desse influente comerciante. Ontem tentei entrar aqui e pedir audiência ao Grande Líder. Mas quando estava para passar pelos guarda na entrada um punhal foi cravado no chão, como um lembrete. Me desencorajei e fui para casa. À noite avaliei tudo. Sei de vossa história. Sei que os dole-mundii virão atacá-los e provavelmente arrasarão vossa tribo. Valeria a minha vida mais do que as de milhares de maztenas? De que valor seria me calar e viver com o peso de tantas mortes em minha alma, e ver minha casa definhar? (dizia isso porque os maztenas eram fonte de lucro para ele, através do comércio). Eis que hoje me propus a vir aqui e falar com o Grande Líder sobre o assunto, e para o meu espanto, estranhos me agarraram, lançaram um punhal contra mim e me trataram com desrespeito. E é aqui que nos encontramos.”
  Os maztenas entenderam que Sendedcol agora falava deles. Meirol arrependeu-se muito no seu coração e implorou perdão.
“Então é assim que tudo aconteceu ... esse comerciante asnarlahal combinou com Tarastir e com os levinotes o local da entrega da Pedra ... nossas fronteiras. Por isso a caravana levinote estava lá no norte das terras maztenas.” Disse Meirol. “Peço-te Sendedcol que leves essa informação até o Grande Líder Asnarlahal, para que ele decida se nossa amizade forjada pelo comércio terá valia como uma aliança militar. Nossa missão falhou num aspecto ... era para ser secreta e rápida, para interceptarmos a caravana que, imaginávamos (e não estávamos errados), estava com a Pedra Sácer. Deixamos de ser rápidos ao sermos aprisionados pelo eromês. Deixamos de estar em segredo quando revelamos o objetivo de nossa comitiva ao Grande Líder dos Manvatopias. Agora, revela por favor também ao seu Grande Líder todo o assunto, pois creio que ele poderá nos ajudar. Que ele troque mensagens com Handaf, se desejar.”
“Meirol, com sua permissão desejaria permanecer aqui, para cuidar de que esses assuntos sejam devidamente tratados, pois isso exige relações diplomáticas.” solicitou Greiteli.
“Acho excelente idéia” disse Meirol, fitando Greiteli. Parece que Greiteli estava retirando o véu de soberba que usava.
   Foi uma triste despedida. Greiteli estava com o semblante carregado, como se algo o perturbasse profundamente. Os que partiram sentiram que a companhia de Greiteli foi uma perda necessária, mas dolorida. Eram só dez, e sentiriam falta de qualquer um que deixasse o séquito. Agora, deixando Greiteli nas terras dos asnarlahals, atravessaram novamente o rio, com o auxílio provido por Sendedcol.

 
Buscar na Web por:
Powered by Google
Sites:
Outros Links :
Meirol e a Pedra Sácer - Desenvolvido e mantido por Êferos Masopias