5.
A comitiva Chega até os Asnarlahals
A
preocupação de que os manvatopias delatariam
a situação aos dole-mundii fez que a comitiva
liderada por Meirol apressasse o galope.
“Quem mora ao norte dessas terras?” Perguntou
Meirol, e Greiteli respondeu:
“São os tassu-assus. Como vocês puderam
ouvir anteriormente, ele são hostis aos eromês.”
“Não sabemos que outros perigos nos esperam deste
lado do Vantaás-Eás. Vive que tribo do outro
lado do rio?”
Greiteli não soube responder, e Aduneius disse que
passou por ali, mas não vira viva alma nem residência
naquelas terras.
“Atravessaremos o rio e pernoitaremos no outro lado,
e evitaremos o território dos tassu-assus” disse
Meirol, “Porém recomeçaremos a cavalgada
antes da alvorada.”
Procuraram uma parte do rio que pudesse
ser atravessada a galope e encontraram. Em certo momento os
cavalos hesitaram, pois o rio começou a afundar, mas
logo as águas estavam rasas novamente.
Chegaram no outro lado e escolheram novamente
o local para armar as barracas, e os quatro carregadores novamente
ficaram ocupados. Os demais integrantes discutiam o acontecido
e as conseqüências. Quin-Néser e Caldiens
foram bater a região.
Logo a noite caiu, e os homens sentaram-se
ao redor de uma fogueira e Quin-Néser começou
a contar o relato da batalha contra os achis. O Grande Líder
dos dimbols solicitara ajuda de Handaf, e este enviou algum
auxílio contra os achis, e Quin-Néser fora enviado
à batalha. Detalhes interessantes da luta foram relatados
com sentimento e exatidão. A história de 300
dimbols que perderam uma batalha para 63 achis, que encurralados
subiram uma elevação de mata densa e armaram
armadilhas atrás de si, envenenando muitos dos dimbols,
fazendo outros cair em buracos e serem perfurados por lanças
lá colocadas e ainda outros cortando gravemente o pé,
sendo depois carregados por seus companheiros atrasando-os.
Os maztenas sentiram-se orgulhosos em saber que seus arcadãs
viraram a guerra, quando os dimbols foram a campo aberto para
uma última batalha. Estavam já na proporção
de 1 para 3 achis, e os achis aparentemente estavam pressionando
Daverás para os ajudar na batalha, o que aumentaria
ainda mais o poder deles.
Estavam naquela hora em campo aberto,
e os dimbols desejavam ir à batalha e morrer honradamente,
numa corrida ao suicídio, numa luta sem esperança.
Nesse ponto, um líder de exército
maztena organizou arqueiros de tal forma que vários
achis foram alvejados muito antes atingirem os dimbols, e
a vantagem numérica mudou de lado ... os maztenas ajudaram
os dimbols a alcançar a vitória.
A noite já estava avançada
quando Quin-Néser terminou o relato. Meirol disse à
Caldiens que ele ficaria de guarda um pouco, para que os dois
guerreiros tivessem, dessa vez, uma noite bem dormida. Enquanto
todos os outros dormiam, porém, Meirol percebeu que
Servensaus permanecia acordado. “Estou sem sono”
disse ele, respondendo à um aceno de Meirol.
“Sente-se aqui comigo então, vamos conversar
em tom baixo”
Servensaus foi. E iniciou-se uma agradável
conversa a respeito de lendas inventadas por Servensaus.
“Uma delas” disse ele “é a minha
preferida. Estou inventando um novo planeta.”
“Ah é, e como é o nome ... Panol?”
“Não ... Como chamamos o solo de terra ... as
terras da tribo tal, as terras da família tal, chamei
de planeta Terra.”
“Criativo ... o que eles fazem lá?”
“Ainda estou bolando tudo, e muito pode ser alterado.
Já inventei mais de 2000 anos de história para
a gente de lá. Várias nações,
várias guerras. Mas pretendo escrever sobre grandes
navegações que os terranos farão e numa
dessas navegações encontrarão um país
chamado Brasil. Este país trará paz ao mundo,
mas fará isso através das armas.”
Servensaus continuou a contar sobre suas
idéias, e quando ele falou do esboço mental
que tinha para um jovem chamado Alexandre, o grande, Meirol
disse:
“Isso tira o senso de história real para sua
lenda, imaginar que um único homem conquistaria tantas
nações e venceria tantas batalhas. Também,
essa história de Brasil e paz não combinam com
a realidade, ... veja a nossa realidade Servensaus. Ninguém
quer a guerra, mas ela existe.”
“Se ela existe, dizer que ninguém a quer é
tolice. Mas talvez você tenha razão ... vou reinventar
esse futuro nas minhas invenções. Mas não
mexerei no que penso para Alexandre. Os maztenas provaram
que façanhas militares podem virar uma batalha que,
numericamente, está contra você.”
“Sei.”
“Um jovem terrano que inventei é um criador de
histórias também.”
“Quer dizer que você inventou um criador de história?
Então você terá que inventar uma história
que para ele é realidade, e depois as histórias
que ele criaria .. mas na verdade tudo é lenda. Curioso!”
“Mais curioso ainda é o fato de que ele inventou
uma Panol. Igual a nossa ... tem maztenas, Handaf, dunos,
eromês, asnarlahals e tudo mais.”
“Quer dizer, você inventou um cara e um outro
mundo para ele, daí ele inventa um mundo que é
o nosso mundo. Para ele, a Panol é imaginária
e a Terra é real. Mas na verdade Panol é real
e o planeta Terra é imaginário. Se ele inventasse
um Servensaus na Panol dele, para aquele homem a Panol era
real, e a Terra que esse Servensaus inventou seria imaginária.
Daí, se isso fosse um ciclo contínuo, seríamos
imaginário e reais alternadamente.”
“É” disse Servensaus rindo, “mas
não esqueça que a Terra é que é
imaginária, e a Panol é real”
“Agora não sei mais nada” disse Meirol,
em tom de brincadeira.
A noite se passava e Servensaus e Meirol
iam dando contornos mais bem-definidos à este lugar
imaginário. Logo, Aduneius acordou e pôs-se a
vigiar o acampamento no lugar de Meirol, e ambos foram dormir.
Ao amanhecer, se foram. Como o comerciante
Le-in ia à frente deles com a pedra Sácer em
passo de caravana, eles teriam quase o alcançado, não
fosse os contratempos com os eromês. Agora, cavalgavam
com alguma pressa e iam contornando as terras dos tassu-assus.
O terreno possuía um vale úmido, apesar de lá
não correr rio algum. Subiram, desceram, atravessaram
o vale, subiram novamente e desceram ... aí já
estavam a meio caminho da tribo sul dos Asnarlahals. Continuaram
cavalgando por terras onde o silêncio é o Grande
Líder. Ao seu lado esquerdo podiam divisar as matas
altas que impedem que vejam a vegetação rasteira
da Amandii. Ao lado direito estava o Vantaás-Eás.
Cavalgadas depois, chegaram até os primeiros habitantes
asnarlahals. Estes viviam deste lado do rio, mas a tribo propriamente
dita ficava do outro lado. Conversaram com os asnarlahals,
que os interrogaram muito, tentando saber quem eram e para
onde iam.
“Os asnarlahals vigiam os acontecimentos por aqui e
se mantém informados sobre quem passa por essas terras.
Esse interrogatório todo provavelmente é reportado
aos líderes do outro lado do rio. Greices também
interrogava forasteiros, para depois informar Handaf das movimentações
nas fronteiras. Se os levinotes passaram por aqui, os asnarlahals
devem ter percebido. Precisamos conversar com a liderança
deles. Como atravessaremos esse rio?” Disse Meirol.
“Ora Meirol, pergunte a estes sobre os levinotes, pois
se estes são os que reportam tudo, estão em
melhores condições de dizer algo.” Sugeriu
Greiteli.
“Não, Greiteli, É possível que
outros asnarlahals, em outro ponto, tenham avistados os levinotes,
enquanto estes talvez nem os tenham vistos. É para
onde aflui toda informação que devo ir.”
Os asnarlahals não queriam atravessá-los sem
pagamento em moedas de pratas. Nenhum maztena, porém
as possuía. Fora um descuido de Handaf não providenciar-lhes
isso. Um dos asnarlahals apontou para o cavalo de Handaf e
balbuciou algumas palavras que Meirol não pôde
entender.
“Querem o crina dourada!” Disse Aduneius.
Meirol desesperou-se. Desejava entregar
o cavalo a Handaf, se pudesse ter sucesso em sua jornada.
Ele pensou muito, franziu a testa, coçou os olhos,
pôs as mãos atrás, na nuca, e estava se
acostumando com a idéia de desfazer-se do cavalo.
Ora, aconteceu que um outro homem que possuía
um pequeno barco era também comerciante de cenouras.
A espécie de cenoura asnarlahal era fina e comprida,
mas de bom aspecto. Aduneius aproximou-se e percebeu que este
cometia um grande erro em suas vendas. O comerciante cobrava
as cenouras por ráshnaki. Um ráshnaki era a
quantidade de cenouras que dava para amarrar em um cordão
de 30cm. Cada ráshnaki era tanto, mas certos homens
traziam um cordão de 60cm e pagavam pelas cenouras
o dobro do que pagariam por um cordão de 30cm. Chamavam
o cordão de 60cm de ráshnaki duplo.
Na língua comum, Aduneius conversou com o comerciante,
e dizendo:
“Ora asnarlahal, tu estás perdendo dinheiro e
não te apercebes?”
O homem o olhou espantado tanto pela forma direta que este
estranho lhe dirigia a palavra, como pelo que dizia.
“Eis que tenho comigo nove colegas, e nós dez
temos que atravessar o rio. Te mostrarei que estão
te enganando, e tu, da tua parte, providenciará para
nós uma travessia segura”
O comerciante concordou e Aduneius passou
a explicar-lhe através de desenhos e contas, que um
ráshnaki duplo tinha quatro vezes mais cenouras que
um ráshnaki simples. Depois, amarrou as cenouras das
duas maneiras e contou as cenouras contidas nos dois diferentes
ráshnakis. O asnarlahal ficou estarrecido. Os compradores
já deviam ter se dado conta da vantagem do ráshnaki
duplo, por isso cada vez mais esse último era mais
solicitado. O homem curvou-se até o chão em
gratidão à Aduneius (e ele, cheio de pose, gostou
da bajulação). Depois, o homem chamou seu servo
mais experiente e ordenou que transportasse os maztenas. Torna-se
desnecessário dizer que os demais ficaram curiosos;
e Meirol, orgulhoso de sua escolha (de tê-lo trazido
junto). Durante a travessia do rio Vantaás-Eás,
Aduneius teve de explicar aos demais por que todos estavam
sendo transportados “de graça”.
Do outro lado do rio, agradeceram a travessia
e por indagações descobriram onde se ubicava
o Grande Líder dos asnarlahals. Muitos deles sabiam
falar à maneira dos maztenas. O comércio fazia
algumas imposições que os asnarlahals não
se importavam em obedecer. Os maztenas estavam a pé,
porque os cavalos não puderam ser transportados e Meirol
deixou Bafor-Nul cuidando deles na margem oeste do rio. Caldiens
e Quin-Néser estavam apreensivos, pois eram responsáveis
em garantir a vida dos membros da comitiva, e lembravam que
da vez anterior em que entraram em solo dominado (as terras
eromês) a morte fez-se quase certa.
Com certa dificuldade em caminhar pelas muitas e bem povoadas
ruelas (para eles, um tanto incomuns), Meirol e seus companheiros
encontraram a edificação onde estava o Grande
Líder asnarlahal. Pediram aos guardas permissão
de ir até ele e perceberam que os mesmos não
entenderam nada e ficaram com um aspecto agressivo por verem
forasteiros às portas daquele edifício. Aduneius
já estava prestes a conversar com eles na língua
comum, quando Greiteli tomou a frente e falou algumas palavras
aos guardas. Incrivelmente, um deles curvou-se perante Greiteli
e saiu.
“Não esqueçamos que temos entre nós
um homem de alta graduação” – Disse
Servensaus.
O guarda retornou e disse a Greiteli que outros
assuntos urgentes ocupavam o Grande Líder dos asnarlahals
e que eles seriam bem acolhidos em outro aposento, se desejassem
esperar um pouco. Sentaram-se, foram bem servidos, e os corações
deles passaram-se a alegrar-se com o bom vinho asnarlahal.
Um asnarlahal com brincos de ouro estava por perto, sozinho,
também esperando uma audiência com o Grande Líder.
Vez por outra o olhar dele se encontrava com o de Meirol,
e Meirol abaixava ou desviava o olho. O homem parecia curioso.
“Bafor-Nul se deu mal” disse
Alaicha. Lembrado disso, Servensaus recolheu um pouco da boa
comida e pôs vinho numa bilha e guardou para o companheiro.
Meirol então pôs-se a pensar alto:
“Que missão mais desorientada ... estamos perseguindo
uma suposição, não sabemos com certeza
para onde a Pedra foi, se estamos seguindo seus rastros corretamente,
nem se os que estão no caminho podem nos dar boas informações.
Dependemos de nossa própria esperteza coletiva, somos
constantemente atrasados e um ataque dole-mundii logo será
formado. Não vou mais esperar aqui.”
Levantou-se como se aquela pequena
espera o atormentasse mais do que a longa demora nas terras
eromês. Nesse mesmo momento, pensando que os maztenas
se iam, o homem se levantou bruscamente e estendendo a mão
na direção de Meirol, ia dizer alguma coisa.
Quin-Néser atirou-lhe um punhal que o prendeu pela
túnica na parede, mas não o feriu. Ao mesmo
tempo perplexo pela habilidade do maztena e assustado pela
rapidez do ataque, o homem livrou-se da túnica presa
na parede, só para ser preso nos fortes braços
de Caldiens, que visivelmente irritado, perguntou o que ele
ia fazer.
“Vá com calma grandalhão ... você
está em solo asnarlahal. Sabes por acaso minha posição?
Sabes quem sou? ... Você, o que faz aqui?” Perguntou
apontando para Meirol.
“O que venho fazer aqui é problema meu. Há
algo em que eu possa ser útil? Porque estás
prestando atenção a nossos assuntos?”
“Digamos que assisti muitas negociações
neste mesmo aposento. Muitas das quais pude tirar lucro, algumas
nem tanto. Sou um rico comerciante asnarlahal e estou esperando
para entrar perante o Grande Líder Djeiko-Bihel. Sabe,
homens, vocês não são dos mais educados,
e minha conversa com vocês não existiria se ela
não interessasse a mim também.”
“Peço que nos perdoe. Estamos sob intensa pressão,
numa situação delicada” – disse
Meirol.
“Entendo ... vocês são maztenas? Se são,
sei o que procuram ... a Pedra Sácer.”
Um assombro tomou conta do grupo.
Meirol arregalou os olhos no mesmo instante em que Greiteli
botou a mão no peito e Servensaus na boca”
“Como sabe disso asnarlahal? Diga rápido!”
– disse Caldiens, em tom ameaçador.
“Vá com calma grandalhão ... você
está em solo asnarlahal. Sabes por ...”
“Por Handaf, vais começar com tua ladainha novamente?
Qual é teu nome asnarlahal?” Perguntou Greiteli.
“Sendedcol é o meu nome.”
“Sendedcol? Mil desculpas senhor. Não sabíamos
que estávamos diante de tão importante pessoa”
Disse Greiteli, levemente curvando-se, e olhando para os demais
continuou: “Ele é o senhor de alguns dos asnarlahals
que nos visitam e compram, e vendem mercadorias para nós.
Handaf aprecia muito as visitas asnarlahals.”
“Sendedcol – disse Meirol – Greiteli te
respeita muito, pois ele é homem de alto escalão,
e entende muito mais do que eu sobre muitos assuntos importantes.
Eu, porém, entendo agora somente duas coisas. Tenho
pressa, e o sumiço da Pedra Sácer era um segredo
maztena. Como sabes algo sobre isso? Algum manvatopia passou
por aqui?”
“Não diga que os manvas sabem sobre o assunto!
Se sabem, é hora de Handaf se preparar para a batalha.
É uma pena. Os maztenas são um povo interessante
de se conhecer ... para mim em particular, significa um malogro
inacreditável. Meus melhores negócios são
realizados com os maztenas.
“Tenho uma esposa, uma pessoa inocente de todas as tolices
dos homens que pisam no solo. Ela pode morrer nas mãos
dos dole-mundii, e com ela milhares de outras mulheres e crianças,
e você se preocupa com seu dinheiro?”
“Maztena, que tenho eu a ver com os erros de vossas
tribos? Se tu não pode corrigi-los, posso eu? Mas eis
que vos darei uma valiosa informação. Aqui,
nesse aposento, como eu falava, levinotes receberam informações
de como receberiam a Pedra Sácer. Contaram com a colaboração
de um maztena desconhecido, um tal Tarastir (falava isso em
tom de ironia, uma vez que Sendedcol sabia que Tarastir era
filho de Handaf).”
Os maztenas todos ficaram muito espantados
com o que ouviram .. Greiteli mais que todos.
“Nossa sagacidade mostrou-se brumosa. Os homens de Tarastir
não viram quem pegou a pedra? Como não, se foram
eles mesmos que a tomaram! Teria sido justo se Handaf os matasse,
... a todos! – Disse Meirol.”
“Por isso Tarastir implorou pela vida de seus guardas!
Ao encarar a morte alguém entre eles poderia implorar
por sua vida delatando o mentor do roubo.” – Completou
Servensaus.
“Deixem-me continuar” – clamou Sendedcol
“éramos poucos nessa reunião. Parece que
o organizador dela, que por prudência me pouparei de
pronunciar o nome, desejou o mínimo possível
de pessoas na reunião. Daí, sentaram-se conosco
levinotes. Disseram que precisavam de uma informação,
e que pagariam bem por ela. Queriam saber como obter a Pedra
Sácer.
Os levinotes são inteligentes. Sabem
que os asnarlahals conhecem bem os maztenas, e que alguns
asnarlahals venderiam até sua família para ganhar
algum dinheiro. E de fato, por uma simples informação,
os levinotes pagaram muito bem. Por um desses grandes infortúnios
dos acontecimentos, solicitaram informações
justamente para aquele comerciante que há tempos eu
percebia que era visitado por Tarastir. Nunca soube porque
Tarastir o visitava com freqüência, nem sobre o
que falava, mas me pareciam lamúrias. Vim a saber numa
reunião posterior, de sua própria boca, que
Tarastir ambicionava o poder, mas seu pai estava propenso
a escolher como sucessor um dos dois filhos mais velhos, ou
um de seus conselheiros.
Eu estava por aqui para falar com o Grande
Líder sobre um problema meu. Ao me ver, porém,
nosso amigo asnarlahal ficou feliz e de maneira um tanto apressada
me chamou para a reunião, pois eu conhecia muito bem
os maztenas. Me foi imposta duas opções ao participar
da reunião: silenciar-me sobre o assunto fora dela,
e participar dos lucros, ou denunciar tudo e pôr em
risco a vida de minha família. Este comerciante era
homem influente e poderoso, mais rico do que eu, capaz de
comprar muitas testemunhas entre os grandes, para falarem
falsamente contra mim. Participei da reunião, ouvi
tudo, e não fui de ajuda. O comerciante sozinho verificou
que ele sabia quem podia ajudar a roubar a pedra. O descontente
Tarastir.
O comerciante asnarlahal disse que os levinotes
poderiam vir até as fronteiras maztenas em certo dia,
em exato lugar e apanhariam das mãos de maztenas a
prometida pedra. Fiquei pensando em como tal comerciante poderia
dar tal garantia. Mas numa outra reunião nessa sala,
fui novamente convidado a participar. Dessa vez Tarastir estava
aqui. Foi quando soube de seu descontentamento. Fiquei surpreso
quando ouvi que ele venderia a pedra aos levinotes. Ele venderia
toda a sua tribo à guerra contra os dole-mundii, por
relativamente pouco dinheiro! Não pude acreditar. Como
Tarastir retirou a pedra tão bem vigiada do seu lugar
eu não sei, mas sei por vocês que ele foi eficiente.”
“Foi fácil, ele era responsável pela segurança
da pedra em alguns dias” – explicou Greiteli.
“O filho traiu a confiança de seu pai. Mas talvez
vocês se perguntem porque fui convidado a ouvir o que
Tarastir dizia. Pode parecer que Ojina correu um risco desnecessário,
mas já que ele de maneira apressada me convidara para
participar da primeira reunião, agora queria que eu
participasse dessa segunda reunião também para
que me sentisse cúmplice de tudo, e me calasse. Passei
todos esses dias angustiado, desejando informações
sobre a Pedra Sácer. Passei a ser vigiado por onde
ia, e achei melhor andar escoltado por servos robustos. Queria
informar o Grande Líder, mas temia a vingança
desse influente comerciante. Ontem tentei entrar aqui e pedir
audiência ao Grande Líder. Mas quando estava
para passar pelos guarda na entrada um punhal foi cravado
no chão, como um lembrete. Me desencorajei e fui para
casa. À noite avaliei tudo. Sei de vossa história.
Sei que os dole-mundii virão atacá-los e provavelmente
arrasarão vossa tribo. Valeria a minha vida mais do
que as de milhares de maztenas? De que valor seria me calar
e viver com o peso de tantas mortes em minha alma, e ver minha
casa definhar? (dizia isso porque os maztenas eram fonte de
lucro para ele, através do comércio). Eis que
hoje me propus a vir aqui e falar com o Grande Líder
sobre o assunto, e para o meu espanto, estranhos me agarraram,
lançaram um punhal contra mim e me trataram com desrespeito.
E é aqui que nos encontramos.”
Os maztenas entenderam que Sendedcol agora falava
deles. Meirol arrependeu-se muito no seu coração
e implorou perdão.
“Então é assim que tudo aconteceu ...
esse comerciante asnarlahal combinou com Tarastir e com os
levinotes o local da entrega da Pedra ... nossas fronteiras.
Por isso a caravana levinote estava lá no norte das
terras maztenas.” Disse Meirol. “Peço-te
Sendedcol que leves essa informação até
o Grande Líder Asnarlahal, para que ele decida se nossa
amizade forjada pelo comércio terá valia como
uma aliança militar. Nossa missão falhou num
aspecto ... era para ser secreta e rápida, para interceptarmos
a caravana que, imaginávamos (e não estávamos
errados), estava com a Pedra Sácer. Deixamos de ser
rápidos ao sermos aprisionados pelo eromês. Deixamos
de estar em segredo quando revelamos o objetivo de nossa comitiva
ao Grande Líder dos Manvatopias. Agora, revela por
favor também ao seu Grande Líder todo o assunto,
pois creio que ele poderá nos ajudar. Que ele troque
mensagens com Handaf, se desejar.”
“Meirol, com sua permissão desejaria permanecer
aqui, para cuidar de que esses assuntos sejam devidamente
tratados, pois isso exige relações diplomáticas.”
solicitou Greiteli.
“Acho excelente idéia” disse Meirol, fitando
Greiteli. Parece que Greiteli estava retirando o véu
de soberba que usava.
Foi uma triste despedida. Greiteli estava
com o semblante carregado, como se algo o perturbasse profundamente.
Os que partiram sentiram que a companhia de Greiteli foi uma
perda necessária, mas dolorida. Eram só dez,
e sentiriam falta de qualquer um que deixasse o séquito.
Agora, deixando Greiteli nas terras dos asnarlahals, atravessaram
novamente o rio, com o auxílio provido por Sendedcol.
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