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7. “Você vendeu nossas vidas por este preço?”

   Bafor-Nul sentia-se revigorado enquanto alimentava-se e saboreava o bom vinho asnarlahal, trazido a ele por Servensaus.
“O que faremos com este” – falou de boca cheia apontando para o cavalo de Greiteli.
   Meirol ainda não havia pensado no cavalo, e enquanto pensava em vendê-lo, Quénsel sugeriu que o cavalo fosse levado ao proprietário pelos mesmos homens que os atravessaram ... os servos de Sendedcol.
   Logo a comitiva cavalgava rapidamente em direção ao pico Andeias. Meirol calculou que a caravana levinote dificilmente teria partido para outro lugar, senão para suas próprias terras.
“Suponha que encontremos a tal caravana. E então?” perguntou Aduneius.
“Então o quê?” respondeu perguntando Meirol.
“O que você fará?” Colocará um punhal na mão de nós todos e atacaremos como loucos desvairados a caravana levinote?”
   Meirol nem tinha pensado nisso. “Que aventura mais maluca. ... (fez um longo silêncio) ... Aduneius, você percebe a falta de orientação nisso tudo?” – Aduneius balançou a cabeça positivamente – “Handaf fez testes para saber qual dos chamados sábios enviaria nessa missão. Mas Handaf não tinha a menor idéia de nada sobre o paradeiro da Pedra Sácer. Não fosse a denúncia dos levinotes no norte, não faríamos a menor idéia de onde a pedra poderia estar. Além disso, nem pensamos nisso que você acabou de perguntar. Descobrir para onde a Pedra Sácer foi é uma coisa; poder resgatá-la é outra.”
Continuaram em direção ao oeste e avistaram de longe o pico Andeias.
“As Montanhas Andeias” – disse admirado Meirol. Meirol nunca ouvira falar delas antes, mas Aduneius e Servensaus descreveram-lhe detalhadamente o Pico, o mais alto de todo o território Silvo. A admiração dos narradores aguçou a curiosidade de Meirol, e ele sentiu-se honrado em conhecer aquele lugar.
Caldiens, que ia à frente, parou. Olhando com seriedade para Meirol, pediu que a comitiva tentasse se ocultar atrás de alguma árvore ou rochedo. Levando Quin-Néser consigo, Caldiens foi bater a região.
   Os carregadores estavam visualmente nervosos com aquilo. Mas o quê estava acontecendo? Nenhum dos que ficaram para trás sabiam.
   Logo voltavam os dois guerreiros, com olhar triste.
“Parece que a caravana Levinote foi atacada. Há sinais de luta, flechas ao chão e muito sangue. Há indícios de cavaleiros vindo das montanhas e do Grande Rio. Algumas mercadorias de não muito valor foram deixadas para trás.”
   O grupo sentiu-se nervoso com a notícia. Enquanto cavalgava, Bafor-Nul olhava para o pico, com a sensação de que logo uma nuvem de poeira se ergueria vindo na direção deles. O vento batendo no rosto parecia frio, mas o vento era quente. Ouviu-se um relincho alto e uma galopada; Caldiens assustou-se e disse que batera a região o suficiente para afirmar que não havia ninguém lá. Logo aparecera um cavalo selvagem, cortando a frente da comitiva e se dirigindo ao rio. Caldiens deu um breve sorriso, como se pensasse “cavalo travesso”.
   Ao chegar no exato local do ataque, a comitiva parou. Passaram a procurar cautelosamente algum artefato que pudesse ser a Pedra Sácer.
“Imaginem que a caravana foi atacada por ladrões inescrupulosos. Será que uma pedra teria algum valor para gente gananciosa?” Perguntou Aduneius.
“Bem, se for para vender ...” – arrematou Meirol
“Não Meirol. Olhe esses objetos simples ... foram deixados para trás. Parece que os ladrões estavam interessados nos objetos mais bem elaborados, os de valor. Se deixaram esses para trás, porque levariam uma pedra ... a menos que ... é ... a menos que soubessem de seu alto valor venal!”
Meirol caiu de joelhos, desanimado.
“Você está sugerindo que alguém sabia que essa caravana levava a Pedra Sácer e a atacou para obtê-la?”
“É uma hipótese, não um fato confirmado”
“Por Handaf ... que direção tomaremos agora?”
   Meirol reuniu o grupo para se aconselhar. Pediu que todos prestassem atenção na hipótese de Aduneius e perguntou qual direção cada um sugeria que a comitiva deveria tomar.
“Das montanhas” disse Bafor-Nul, “eles vieram de lá,segundo Caldiens, então foram para lá”.
“Eu acho que o Bafor-Nul está certo” disse Quénsel.
“Devemos ir adiante, pois que direção eles tomaram se a pedra está com eles?    Não sabemos. Mas se a pedra não estiver? Então ela foi para o poente, com alguém que talvez fugiu do pesaroso fado que envolveu os demais.” Sugeriu Quin-Néser.
“É” disse Esmálforas
“Concordo com Quin-Néser” disse Servensaus
“Porque ainda temos dúvida ... não é nem preciso colher mais opiniões, está claro que Quin-Néser tem razão” declarou Alaicha.
   Ao ser apontado pelo olhar de Meirol, Aduneius disse:
“Melhor nos nortear pela opinião de um esquadrinhador de terrenos.” Disse isso olhando para Caldiens, que se expressou:
“Se os agressores obtiveram ou não a Pedra não sei, mas sei que foram para o nascente. Como não nos deparamos com ninguém no caminho, devem ter saído da rota principal, ou passado por nós enquanto estávamos em terras asnarlahals ou eromês. Mas acho que a primeira opção é a mais provável, uma vez que os rastros deles vão até perto de onde parei o grupo lá trás e desviam para o sudeste.”
   Meirol ficou confuso, e falou em voltar para o leste. Alaicha disse que ainda achava que o grupo deveria ir para o poente. Enquanto havia conselho entre eles viram lá diante um homem montado, parado. A neblina que desceu naquele momento permitiu que se percebesse pouco mais que uma silhueta. O homem ficou lá, parado, enquanto uma ansiedade conjugada com silêncio bateu sobre o grupo.
“Deve ser um batedor, talvez do mesmo grupo que dizimou os levinotes mercadores.” Disse Quin-Néser. “Ele não pode avisar os demais sobre nós.”
Quando Quin-Néser terminou sua frase, o homem manuseou as rédeas e insinuou que ia dar meia-volta; então Caldiens e Quin-Néser pularam sobre os velozes adejantes e foram no encalço deles. O cavalo do homem não era dos mais velozes, e mesmo que fosse, não seria páreo para adejantes. Logo os mesmos voltaram com o homem amarrado sendo trazido a pé por Quin-Néser, enquanto Caldiens trazia o cavalo do estranho.
“Assassinos” ouviu o grupo de longe! “Podem me matar, pois desejo encontrar-me com meu irmão Le-In”. Obviamente, não irmão de sangue.
Quando o prisioneiro olhou para o grupo que acompanhava seus dois captores, reconheceu a semelhança nos modos com o grupo que matou os integrantes de sua caravana. Puxou uma adaga que estava engenhosamente escondida sob sua vestimenta, mas foi rendido por Quin-Néser imediatamente.
“Assassinos” sussurrou novamente.
“Quem és?” perguntou Meirol.
“Sou este homem que estás vendo. Que diferença faz o nome que me designaram ao nascer?” Era Ninfa!
Meirol riu da resposta inesperada. “Por que nos chamas de assassino? És tu um dos eromês?”
“Eromês? Não tenho tratos com aqueles bárbaros entrerrienses.”
“Então por que nos acusas de assassinato? Os únicos homens que matamos foram eromês, e o fizemos em legítima defesa!”
   Ninfa parou, pensou e desculpou-se.
“Julguei que fossem os assassinos de meus amigos. Foram mortos por ladrões. Parece que estavam interessados numa Pedra que nossa caravana trazia.”
“Uma Pedra ele disse?” pensou Meirol. A menção disso fez todos pararem e olharem para o estranho: deixaram de se coçar, olhar para o Pico Andeias, reajustar a cela do cavalo ou verificar pequenos ferimentos.
“Por tudo que é mais sagrado, precisamos saber mais dessa Pedra” disse Meirol.
“Parece que o mundo enlouqueceu ... ninguém mais procura pedras preciosas, só esta Pedra infame sem valor.”
“Amigo, (“então agora virei amigo”, pensou o Ninfa) meu batedor já constatou que houve luta nesse local. Deve ser o ataque a sua caravana, conforme você comentou. Não fomos nós. O último lugar em que encontramos homens foi na tribo asnarlahal, lá atrás. Acabo de ver pela primeira vez na minha vida o majestoso Pico Andeias, e procuramos qualquer notícia sobre uma Pedra específica.
   Perdoe nossa captura. Julgamos que você fosse integrante do grupo dos homens que causaram o infortúnio aos mercadores nesse lugar. Parece que você julgou também que nós fôssemos tais homens. Minhas consternações por sua perda!”
“Por que queres tu a Pedra?”
“Meu nome é Meirol, sou um maztena. Parece que você sente um certo desprezo por nós, entrerrienses! (disse isso, com um sorriso de canto da boca e olhando fixamente para Ninfa) Bem, se permite dizer, ainda não estou certo se devo contar a ...”
“um estranho que vocês perderam a Pedra Sácer e agora sua tribo espera sucesso da parte de uma pequena e desesperada comitiva. Por tudo que foi consagrado no mundo, por que não nos alcançaram ao notar o desaparecimento da Pedra Sácer? Se tivésseis sido mais ágeis talvez Le-In ainda estivesse vivo!”
“Sabes o que busco?”
“Me contaram sobre o roubo maztena do Amuleto do Ancianato. Quando você mencionou que era maztena, soube o que você buscava! Me chamo Ninfa. Sou levinote, um dos cabeças da caravana que levava vossa Pedra.”
“Ninfa, muita coisa está em risco. Não sei se tínhamos motivo no passado para roubar essa Pedra Sácer ou não, mas o que sei é que os mundii são guerreiros bárbaros e numerosos. Não nos atacam por respeito ao seu deus Onarai. Mas logo saberão da perda da Pedra, e não temerão nos atacar. Pense em nossas crianças Ninfa. Pense nas mulheres maztenas, inocentes da insanidade dos homens, que pagariam com sofrimento e morte por algo que não cometeram; pois nossa tribo, pelo bem ou pelo mal, é governada pelas decisões dos homens!”
   Ninfa ficou terrivelmente preocupado: “Por todos os levinotes do mundo, o que foi que eu fiz?”
Ele sentou-se desolado! “Eu vendi a Pedra Sácer por um alto valor” Ninfa mencionou seu encontro com Assai e a transação comercial entre os dois. Respondendo a perguntas de Aduneius e Servensaus, ele recuou no tempo e comentou sobre como achara estranho a ida da caravana até a tribo dos maztenas, e a entrega de uma mercadoria por um homem maztena chamado Tarastir. Seguiu falando do ataque de homens semelhantes ao grupo de Meirol atacando a caravana, e causando a morte de seus colegas e levando algumas mercadorias, deixando outras para trás, bem como alguns cavalos que podiam ser vendidos a bom preço. Não demorou muito e sua narração chegou ao ponto em que encontrou Mágobas, o servo de Assai ... quando Le-In mencionou sem querer o valor pelo qual vendera a Padra Sácer, Meirol não pôde segurar a indignação e protestou:
“Você vendeu nossas vidas por este preço?”
   A frase reverberou. Houve um silêncio, cortado por pássaros que voavam nas redondezas. Ninfa continuou:
“Pouco, se pensares do modo como pensas. Muito, se pensares na venda de uma Pedra que para mim não tinha nenhum valor! Porém maztena, não estava satisfeito em ficar bem na vida e não saber exatamente por que Le-In morreu. Fora um simples roubo? Decidi vir para o nascente para investigar, pois Assai, o homem que comprou a Pedra Sácer de mim parecia esperto, e sugeriu que o ataque era uma tentativa dos vendedores asnarlahals de reaver a Pedra que venderam.”
   Quénsel e Bafor-Nul estavam espantados, olhando para Alaicha.
“Por que descaiu teu semblante dessa maneira, meu amigo Alaicha. Ainda há esperança. Vede! A Pedra Sácer está indo para os dole-mundii em passo de caravana. Ainda podemos alcançá-la.”
“Eu sei Quénsel. Deixe-me em paz!”
   Quénsel e Bafor-Nul estranharam a rudeza do colega. Ele parecia agora mais preocupado do que Meirol ... ou ainda, mais preocupado do que Handaf estava nas horas que seguiram à descoberta da ausência da Pedra. Alaicha sentiu-se observado pelos colegas.
“Desculpe meu desespero, amigos.”
   Ao voltarem suas atenções para Meirol e o levinote ouviram-nos dizer que iam cruzar o Grande Rio com a ajuda dos asnarlahals, e ir ao encalço da caravana dole, antes que a Pedra Sácer chegasse a Caruanã.

 
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