Navegação
  .: Capítulo 01
  .: Capítulo 02
  .: Capítulo 03
  .: Capítulo 04
  .: Capítulo 05
  .: Capítulo 06
  .: Capítulo 07
  .: Capítulo 08
  .: Capítulo 09
  .: Capítulo 10
  .: Capítulo 11
  .: Capítulo 12
  .: Capítulo 13
Interação
   .: Contato
  .: Fórum Meirol
 
    

10. A comitiva atravessa o solo manva

    Agora Meirol havia feito o caminho inverso até os asnarlahals. O mesmo comerciante de Rashnáki de cenouras os vira e os atravessara pelo Vantaás-Eás. Mais tarde, tendo cruzado o território asnarlahal, fizeram a perigosa e demorada travessia do Grande Rio Silivrens.
   Como não sabiam da presença de Greiteli (e como não havia poucas vilas naquelas vastas terras) continuaram seu trajeto. Acertaram no plano de interceptar o dole com a pedra. Pois estavam atrás, mas escolheram o caminho mais curto, algo que deviam à experiência de Ninfa.
   Só havia um inconveniente: teriam de atravessar o território dos manvas do sul, onde estavam agora, sem serem vistos.
   Nessa altura muitas coisas já tinham acontecido! O Grande Líder manvatopia já delatara a situação ao Grande Líder dole-mundii, Handaf já havia recebido a comitiva dole-mundii e Greiteli estava a caminho do território maztena. Meirol não sabia, mas estava em vantagem sobre o dole que trazia a Pedra Sácer consigo.
   Nas terras manvas procuraram evitar as estradas de algumas vilas que passaram a encontrar no caminho, mas isso estava atrasando o cavalgar porque longe das estradas o chão estava irregular e a vegetação, bem fechada. Lembrando-se das palavras de Greiteli, que disse que os manvas sabiam da história da Pedra Sácer, estavam um tanto ansiosos. De repente viram-se numa pequena elevação de campo aberto, com algumas gramíneas aqui, outras ali. Viram lá embaixo pessoas aparentemente amassando uvas num lagar, e parecia que outras dançavam ao redor. Uma moça, de tez mais clara ainda do que geralmente os loiros manvas são, olhou para o grupo maztena do meio de uma roda de dança. Percebeu o susto estampado nos estranhos ao se verem descobertos. Ela preferiu não dizer nada aos demais, uma gentileza que logo se mostraria de pouca valia. Todos os maztenas recuaram rapidamente para não serem mais vistos e cavalgaram para longe dali, mas repentinamente viram-se diante de um grupo de soldados manvas. O capitão daquela divisão pareceu bastante surpreso de ver aquela gente diferente ali.
Ao sinal de um estranho som gutural os soldados cercaram os maztenas, ordenando que erguessem as mãos. O capitão manva não conhecia aquela gente de pele morena clara e estranhou aquele homem que parecia envolto num manto (Aduneius), também ficou admirado de ver aquele crina dourada, montaria de Meirol.
   Não sabendo de toda a movimentação ocorrida em sua tribo, causada pelos manvatopias, aquele manva do sul sabia que não era por mero acaso que estranhos fossem encontrados nas terras dos manvas do sul. Decidiu-se portanto, por levar os homens ao seu Grande Líder.
“Alguém entendeu uma palavra do que esses estranhos dizem?” Perguntou Meirol
“Por Handaf, esses coitados tem um falar tão estranho, que parecem que estão se amaldiçoando mutuamente” – Disse Servensaus
“Não me parece desconhecida ... obviamente não sei o que dizem, mas acho que já a ouvi antes” – Completou Aduneius, sem lembrar que o som era o mesmo dos sussurros dados pelos manvatopias na terra dos eromês,
   Os maztenas tiveram suas mãos atadas, porém não foram empurrados ou tratados com outra descortesia. Mas a eles era indicado o caminho e o seguiam. Estavam sendo levados a um governador regional, para que lá ele decidisse o que fazer com os estranhos. Os cavalos foram levados junto, mas todos estavam desmontados.
   Caminhadas e caminhadas depois entraram em terras que os manvas chamavam de Cadmon, e o grupo de Meirol viu-se diante de uma construção simples, mas de belo jardim. Córregos com água límpida e grama e flores belamente situadas, com borboletas azul Royal e outras num vibrante laranja aguardente voavam pela paisagem. Havia uma estradinha pavimentada com pedras brancas que levavam até a edificação.
“Pardês ...” sussurrou Aduneius!
   Servensaus olhou, intrigado, ao que Aduneius explicou:
“É o lugar de Panol para onde vão as índoles dos homens, segundo uma antiga lenda carachi, contada entre grupos que migraram para . Os de bom caráter teriam sua índole vivendo para sempre em felicidade sempiterna na Pardês. Alguns homens em libros crêem nesta história, mas a modificaram, sendo a Pardês chamada de Paradeisos e acrescentando um lugar de punição para os maus. Estes seriam escravos eternos das boas índoles, recebendo delas punições severas e à noite se recolheriam num lugar onde teriam intenso sono, mas não poderiam dormir.”
   Um arrepio correu pelo corpo de Servensaus, ao ouvir aquela história. Era totalmente nova para os maztenas, mas ecos desse mito eram encontrados entre dunos, eromês e asnarlahals, povos descendentes de carachis. No entanto, logo a atenção dele voltou-se novamente para o jardim acolhedor diante dele. Sentiu por um sopro de tempo um revigoramento dentro de si, que logo evaporou-se diante de guardas carrancudos que começaram a falar naquela língua estranha.
   Foram levados perante um homem bem adornado, gordo, que bebia uma bebida fermentada a base de laranja, o qual autorizou que fossem desamarrados. Fê-los uma pergunta que não compreenderam. Meirol perguntou aos espectadores se alguém falava a língua dos maztenas. Não houve resposta, mas o homem gordo riu com um canto da sua entreaberta boca, pois achou curioso aquele idioma! Ao pedido de Meirol, Aduneius perguntou na língua comum se alguém falava aquele idioma.
“Converse comigo, pois sou um mastariano cativo de guerra que cresceu aos olhos de meu senhor, e em Mastaris se fala a língua comum.” Depois o homem voltou-se para seu senhor e explicou-lhe na língua manva o que estava acontecendo. O homem mastariano era de uma fala tão calma que apaziguou o medo que ia crescendo dentro do maztenas. Mastaris era uma tribo altamente civilizada, mas sem muita força militar. Era menos populosa que as tribos asnarlahals ou levinotes, outros dois povos desenvolvidos. Moravam num ângulo formado pelos rios Silivrens (o grande rio) e o Avalen-Tiste, que os mênlistes chamavam de Cados. Tais rios os cercavam ao oeste, sul e norte. Ao leste viviam os manvas, do norte e do sul. Os mastarianos não tinham muitos problemas com os manvas do sul diretamente, mas os do norte eram belicosos e dispostos a saques, e ao travar embates com os manvas do norte os mastarianos acabavam por entrar em rota de colisão com os manvas do sul.
“Conheço os mastarianos” disse Ninfa.
   O governante manva falou algo ao servo mastariano e se retirou, ordenando que os estranhos fossem confinados a um aposento trancado, mas cômodo. O mastariano foi junto e passou a prosear com Aduneius.
   Horas depois, o próprio governante manva passou por perto do aposento e ouviu comemorações e risadas. Ao ordenar que a porta fosse aberta viu pedras no chão e Aduneius explicando naquela “palavras ininteligíveis” algo sobre o jogo. A um pedido seu, o servo respeitosamente explicou sobre o imbatível Aduneius e seu joguinho de pedras. Isso aguçou a curiosidade do homem. Ao ver que os hóspedes eram gente interessante os convidou para alimentar-se a sua mesa e contar de onde vieram e o que faziam em solo manva. Meirol alertou a todos de que podia se tratar de uma gentileza com fins específicos e ordenou-lhes que nada falassem da Pedra Sácer.
   Durante a refeição, usando o mastariano como intérprete, Aduneius conversou sobre como a matemática era avançada em sua terra. Explicou-lhes alguns princípios fundamentais e contou o que os homens de libros chamam de “O problema do viciado”, segundo o qual um jogador tinha moedas no valor de 16 pésets de prata e foi até uma casa de jogos. Ganhasse ou perdesse, ele sempre apostava a metade de seu dinheiro. Numa notinha apostou 6 vezes, perdeu 3 e ganhou 3. Aduneius perguntou com quanto dinheiro ficou o jogador e parecia razoável a todos que fosse os mesmos 16 pésets, uma vez que independentemente da ordem das perdas e ganhos, o que perdia recuperava e o que ganhava perdia. Através de cálculos Aduneius provou ao líder manva que o jogador sempre perdia 9,25 pésets, independentemente da ordem de ganhos ou perdas.
   Foi um problema para o manva compreender a fração 0,25 que compunha aquele 9,25, mas ficou muito satisfeito com seu aparentemente ilustre sábio.
(pésets é uma medida monetária dos mastarianos, empregada pelos manvas também. Aduneius não a conhecia, mas aqui teve a ajuda do mastariano)
   No decorrer da noite Aduneius foi contando a respeito de onde ele era, de como era a terra de Libros, e da origem da civilização em Númaior. Falou da nazbiata (embarcações vindas do continente daneliano se perdem no mar e param neste continente) e de como carachis escravos das embarcações se espalharam em pequenas tribos. Todos ficaram surpresos quando ele mencionou que destes carachis descenderam as tribos dos asnarlahals, levinotes (ao falar dessa tribo apontou a Ninfa) e dos mastarianos, entre outras.
“A maioria dos carachis conhecia a língua comum falada na Danélia, por isso levaram-na consigo pelo nosso continente afora …” Explicava Aduneius, diante da agonia de Meirol que tinha pressa em se livrar daquele homem gentil, mas ainda assim seu captor e possivelmente um perigoso manva. Os demais, porém, pareciam se deliciar com aquele vislumbre do começo, algo que intrigara tantas mentes por tanto tempo. Perguntado por Servensaus (pergunta que foi devidamente traduzido para a língua manva), o que exatamente era essa terra de Libros, Aduneius respirou fundo como se em sua mente se passasse uma lembrança gostosa tal qual uma brisa fresca num dia que queima em calor. Depois falou a respeito de sua terra natal, das duas grandes cidades, Libros e Abratena, das consecuções de engenharia, dos sistemas de irrigação, dos aquedutos e do sistema numérico baseado em 10 desenvolvido orgulhosamente por seus antecessores. Até Meirol esqueceu-se um pouco de sua missão e ficou imaginando aquela terra, em especial aquela “Casa do Pensamento” da qual fazia parte Aduneius.
   Logo Aduneius principiou a narrar sua expedição para as terras desconhecidas do norte, justamente essas tribos silvas que ele agora estava percorrendo. O norteador geográfico da Casa do Pensamento, com permissão real, levou muitos homens importantes para reconhecer as terras e a gente ao norte de Libros, pois registros antigos mencionavam povos carachis povoando o norte. Depois Aduneius lhes falou do animal selvático que lhes atacou, arrastando um deles para longe. Falou ainda da busca ao homem perdido e de como ele (Aduneius) veio a se perder, na correria, do seu grupo. Desorientado, ele passou a perambular pelas terras de Romvelt, uma gente hostil que o maltratou mas descuidou de guardá-lo devidamente. Logo ele andou entre os dunos, um povo muito simpático e simples. Ali Aduneius ficou algum tempo, fazendo anotações sobre aquela gente, até que a saudade de sua terra apertou. Saiu para procurar Libros, atravessou o Vantaás-Eás, mas foi para o norte (geografia não era o forte dele). Até se dar conta de seu erro já estava quase na terra dos asnarlahals. Voltou e encontrou os aroeres do norte maztena, que o encaminharam à Handaf. Sendo tratado de maneira arrogante por líderes maztenas, Aduneius começou a perder a paciência com aquela gente. Demasiadamente ansioso (devido aos assuntos relacionados à Pedra), Handaf também o tratou com rudeza, e Aduneius, no seu orgulho, respondeu rispidamente olhando para Handaf. Ao ser advertido por um guarda maztena a não olhar mais para o Grande Líder, Aduneius o olhou novamente e continuou fitando o potentado. Não muito depois disso, arrasado por estar longe de casa, cansado e com ódio, à caminho da detenção, seus olhos lacrimejantes encontraram os de Meirol.
   Quando terminou de falar, notou que todos os maztenas estavam cabisbaixos, como se estivessem envergonhados. O governante manva estava pra lá de satisfeito com toda aquela história que o entreteve, enquanto Meirol queria livrar-se dele, mas viu que Aduneius estava no caminho certo ao tentar ganhar a aprovação deste.
   O governante manva, já embriagado, perguntou aos maztenas para onde iam. Um silêncio tomou conta de todos ao ouvirem a pergunta traduzida.
“Estamos a caminho do oeste” Foi a resposta.
“Ao oeste?” A resposta intrigou o manva, que sem suas faculdades mentais normalizada teve dificuldade em fazer qualquer associação.
“O oeste é um lugar perigoso …não confio nesses dole nem nesses mundii, e depois deles os maras e os corohires mostram-se extremamente selvagens. Não aproximem-se muito das margens do Grande Rio, onde a concentração de vilas é alta. Como desejo que vós vos mantenhais vivos, ofereço uma pequena guarda, se me contares o segredo de sua vitória naquele jogo de pedras.” – Disse o agora flatulento manva.
“Aceite Aduneius, pois agora teremos que interceptar um dole talvez em terra dole-mundii. Precisaremos de mais força, maior da que possuímos agora.”
   Ao ser aceita a proposta, o manva perguntou quantos guardas deveriam acompanhá-los.
“O número de tuas esposas, com o número dobrado a cada uma delas, e me darás um pequeno exército, pois sei que potentados manvas possuem muitas delas.” Disse Aduneius
   O manva riu: “Só tenho 12 esposas meu amigo, e aceito esses termos”
Feitas as contas, percebeu-se que seria um guerreiro para uma esposa, dois para a segunda, 4 para terceira, 8 para a quarta, 16 para a quinta, assim sucessivamente, de modo que terminou em 2048 guardas para a última esposa.
   O governante ficou em apuros. “Isso é toda a guarda de Cadmon. Como podem 12 esposas render-lhe tanto?” Ao mesmo desesperado e admirado pela sagacidade de seu visitante, o governante manva viu-se na mesma situação que o Grande Líder eromê. Havia dado sua palavra diante de muitos, e não desejava vê-la sem valor.
“Para que sejamos razoáveis, que acha de 50 homens?”
   Meirol falou baixo com Ninfa e a um aceno positivo de Meirol, Aduneius aceitou a proposta: “É o suficiente para guardar-nos”, disse. Na verdade, era o suficiente para interceptar o dole com a pedra.
  Curiosamente, como o assunto desviara-se para o problema do número de guardas, ninguém lembrou-se mais do jogo de pedras, e a curiosidade do manva bêbado não foi saciada.
   No caminho foram barrados algumas vezes por guardas do Grande Líder manva do sul e regionais, mas ao verem o salvo-conduto do governante manva de Cadmon e a guarda de 50 homens com eles, sempre podiam seguir seu caminho.
   E lá se foram os maztenas, o homem de libros e o levinote, na sua busca ao dole, devidamente protegidos.

 
Buscar na Web por:
Powered by Google
Sites:
Outros Links :
Meirol e a Pedra Sácer - Desenvolvido e mantido por Êferos Masopias