11.
Meirol logra a Pedra Sácer
“Tudo está muito calmo por aqui, os mundii e
os dole são numerosos e suas vilas costumam fervilhar
de gente”, disse Ninfa, ao perceber a falta da agitação
freqüentemente narrada por seus amigos mercadores e percebida
por ele mesmo nas suas viagens comerciais de muitos anos atrás.
Estavam penetrando na terra dole-mundii com uma guarda manva
e ninguém os fazia parar. Muitas pessoas ao vê-los
inclusive se trancavam em seus casebres ou corriam sabe-se
lá para onde!
“Meirol, algo está errado” Reafirmou Ninfa!
“A guerra começou”, disse Servensaus. “Aqui
está vazio porque o Grande Líder dole-mundii
organizou uma expedição aos maztenas. Sem dúvida
ele sabe do sumiço da Pedra Sácer”
Meirol afastou-se do grupo. Olhando para
os céus e seu azul límpido, sentiu uma grande
angústia e falou baixinho, como se alguém morasse
lá em cima e pudesse ouvi-lo. Uma lágrima caiu-lhe
com velocidade, deixando seu rastro molhado na face até
alcançar o pescoço. Pensou na esposa amada,
e um aperto no peito insuportável fê-lo prostrar-se.
“Se a guerra já começou o mal já
está em andamento, mas ainda há esperança!
Podemos interromper a guerra se ainda obtermos a Pedra”
“Para onde iremos agora?” Perguntou Caldiens.
“Para o templo principal de Onarai” disse Ninfa.
“Lá devemos buscar a estrada norte, que é
de onde virá o dole com a Pedra”
O Grande Líder dole-mundii teve de
regressar de sua luta nas terras maztenas. Recebeu notícias
de ataques dos faachitas, que habitam as terras ao norte dos
dole-mundii, até a margem do rio Avalen-Tiste. Um homem
dole pôs fogo em entulhos perto de uma floresta num
dia de muito vento, e o fogo espalhou-se de tal forma que
ardeu toda a região. Agora faachitas acham que se trata
de fogo dole criminoso e estão atacando os dole-mundii
que ficaram indefesos.
Caruanã voltou com uma enorme força
militar, mas mesmo assim ainda deixou sob o comando competente
de seu irmão mais novo, Abuani, as forças de
invasão aos maztenas. Trouxe consigo muitos mundii,
pois tinha medo dos faachitas e os doles não tinham
a mesma bravura na batalha. E Abuani, como seu irmão
Caruari, é homem valente e estrategista militar competente,
soube melhor do que Caruanã o que fazer. Avançando
impiedosamente sobre solo maztena, fê-los recuar em
muitas frentes de batalha. Mas os maztenas não recuavam
com facilidade … e com suas táticas de guerrilha
e conhecimento da região, fizeram muitas emboscadas
aos dole-mundii.
Ao fim do dia, muitos lanceiros haviam caído
e os arqueiros não podiam ficar descobertos. Seguindo
o conselho de Bedzar, Handaf recuou o que restou da vanguarda
e os reagrupou com o grupo da retaguarda. As batalhas reiniciaram
e Handaf sempre ia recuando gradativamente, e vidas, tantos
dos maztenas como dos dole-mundii, iam se perdendo no ardor
da guerra. Rauquem fora ferido gravemente ao procurar resgatar
aroeres que caíram numa emboscada. Delor, um dos chefes
de exército, tombou junto com um grupo de homens valentes
que viram Handaf em apuros e foram em seu auxílio.
Sem tal intervenção Handaf com certeza estaria
morto. Quanto a Delor, era filho de dunos, a tribo ao sul
dos maztenas, mas decidiu casar-se com uma mulher da vila
principal maztena e jurou lealdade à Handaf.
A batalha continuava desesperadora e Handaf ordenou
o deslocamento de todo inapto para a batalha para mais ao
sul. Multidões de mulheres, idosos e crianças
tiveram de abandonar suas modestas moradas rapidamente. Com
sua incapacidade de manter posições e seus recuos
forçados, os maztenas logo estavam voltando para as
terras da vila principal. Ali a luta seria mais feroz, porque
os maztenas não pretendiam entregar aquele lugar aos
dole-mundii. Os dole-mundii recuaram um pouco, aparentemente
para se reagruparem e organizarem-se novamente. Abuani apreciou
toda a bravura maztena, e considerou que tanto seus homens
como os inimigos mereciam um descanso. Conhecendo Handaf,
Abuani foi em pessoa perguntar sobre seu irmão Caruari.
Num gesto de honradez, Handaf o respeitou como mensageiro
e ambos sentaram-se para negociar a libertação
de Caruari. Como maztenas e doles cercavam os dois, Abuani
respeitou os costumes maztenas por estar em terras maztenas
e abaixou-se curvando-se perante seu inimigo, e tratou de
não olhar para Handaf.
“Caruari sai da detenção se cancelares
a guerra.”
“Sabes que a guerra não é decisão
minha, é descuido teu e decisão de meu irmão.
Mas mesmo que ele decidisse não atacar-te, os mundii
fariam isso por si só. Eles são desorganizados,
mas numerosos. Não podemos correr o risco de desagradá-los.
Se libertares meu irmão, pouparei de sofrimento tu
e tua família contigo, ao arrasar tua força
militar.”
“Teu irmão ofendeu os costumes maztenas, e não
pode ser simplesmente libertado, a menos que eu tenha um bom
motivo para apresentar aos meus comandados. E vantagem pessoal
não é esse motivo. Não o libertarei.”
“Mas eu o libertarei, e te farei cativo no lugar dele”
– disse o dole, levantando-se furiosamente e dando as
costas para Handaf.
Apesar da aspereza das palavras, Abuani considerava
a Handaf um homem respeitável. Quisera que seu próprio
irmão, o Grande Líder dole-mundii Caruanã,
tivesse a mesma decência do grande Líder maztena.
“O templo de Onarai” Disse Meirol ao avistar o
tão esperado templo.
“Não ‘o templo’, mas sim ‘o
principal deles’ - corrigiu Ninfa. “Há
muitos outros espalhados por aí.
O templo era feito de Pedra, mas era cercado por
madeira de cedro, belas e vigorosas toras. Na entrada havia
um portão voltado para o sul e duas colunas com totens
de face atroz. Na empena haviam esculpidos rostos severos,
alegres e tristes. Um deles era o do espírito que chamavam
Númaior, um dos principais entre os deuses mundii;
uma outra face, uma humana, era a do profeta Merindóremi,
das terras do oeste, de onde vieram os antepassados mundii.
O trabalho não era bom, não era belamente entalhado.
O clima estava frio e parecia que uma tempestade se aproximava.
Como o céu enegrecia-se a partir do norte, dava a impressão
que o negrume partia do templo. Raios lá atrás
deram um aspecto sombrio ao lugar. Não era característico
dali, mas aos maztenas parecia que era. Havia neblina baixa
e guardas estavam postados no portão do templo.
O séquito de Meirol afastou-se do
templo e buscaram a estrada norte.
“Se estivermos com sorte, ainda interceptaremos os doles
que estão com a Pedra” Afirmou Ninfa.
Distanciaram-se do templo pela estrada norte o
suficiente para manterem-se longe da guarda templária
e aguardaram a vinda da Pedra Sácer com o dole. Foram,
porém, vistos pelos defensores do templo, que entraram
em conselho sobre o que fazer com aquele enorme grupo de mais
50 pessoas.
A espera não foi cômoda, tamanho o número
de mosquitos e similares no lugar, mas foi recompensada: Lá
adiante apareceu um grupo de pessoas, vindo pela estrada Norte.
“O grupo que comprou o amuleto do ancianato de Assai”
Disse Ninfa, quase não se contendo de expectativa de
ver o desfecho dessa situação. Ele desejava
muito poder reparar o problema que causou desintencionalmente
ao levar em sua caravana a Pedra Sácer, algo que já
havia custado centenas de vidas na batalha que acontecia naquele
momento.
Esconderam-se e prepararam uma emboscada sob o
comando de Quin-Néser. No meio daquela espera Alaicha
encontrou cogumelos. Ofereceu-os a Esmálforas e Quénsel,
dizendo parecer muito bom, mas ele mesmo não comera,
pois disso se proveu pela vida inteira. Como ele cultivava
cogumelos, ambos acreditaram que era bom e comeram com prazer.
Na hora exata em que os doles passavam pelo
local, jamais imaginariam que tão perto do templo,
uma área sempre tão protegida, seriam atacados
por manvas e maztenas. Poderiam ter prestados atenção
aos sinais: As vilas por onde passaram estavam praticamente
desprotegidas, indício de que os guerreiros dole-mundii
estavam em guerra longe daquelas terras.
Foi grande a sua surpresa quando o dole
viu-se cercado por todos aqueles homens, seus próprios
guardas rendidos pelos manvas e seu principal servo, que fez
um movimento brusco, ser pregado pelas mangas da túnica
em um tronco de árvore por punhais lançados
à distancia. Rendido e sem intenção de
perder a vida, entregou-se.
“Há algo com você que precisamos”
– Disse Meirol
O dole, homem de boa cultura, fluente na língua
comum, na manva e na maztena, ia negar que tinha consigo algo
importante, mas viu Ninfa entre a multidão.
“Deve estar engana ... Olá, acho que nos conhecemos
levinote. Então você vende objetos e depois os
rouba para vendê-los de novo?”
Ninfa ofendeu-se.
“Não sou este tipo de comerciante, estou aqui
porque participei de algo que não desejava e quero
auxiliar a pôr as coisas no lugar. E quero que saibas…”
Ninfa fora interrompido por Servensaus,
que assustado tentava ajudar Esmálforas, que lacrimejava
e suava muito, reclamando de forte cólica estomacal
e tontura. Quénsel, assustado, também estava
lacrimejando muito. Caldiens apontou para um outro cogumelo,
do mesmo tipo e alertou aos demais que vira os dois comendo
aquilo.
“Um chapéu de cobra … eles comeram um chapéu
de cobra … vão morrer” Disse Aduneius.
O dole disse aos seus servos algo que Meirol
não entendeu, e quatro deles deixaram o grupo. Perplexo,
Meirol não quis evitar que se fossem. Logo voltaram
com algumas espécies de tâmaras, dando-as aos
dois maztenas intoxicados. Tal fruta tinha um forte efeito
laxante, e praticamente limpou o organismo dos dois homens.
Dole e maztena, trabalhando lado a lado para salvar
os dois …
Meirol quis ser mais gentil com o homem que mesmo sendo considerado
inimigo salvou os dois carregadores.
“Teriam morrido sem a limpeza estomacal” Disse
o dole.
Aduneius desejou levar uma muda daquela
planta para Libros, mas nem mesmo sabia se veria aquele reino
novamente.
“Que graça te designaram ao nascer?”
“Noseanã, chamado de O Multilíngüe,
por meu senhor, o Grande Líder Dole-mundii”
A menção desse nome fez Meirol
lembrar de novo da pedra.
“Noseanã, eis que estás em número
muito menor que eu, e se medíssemos forças tu
não prevalecerias de forma alguma. Por favor, permita
que eu te faça a gentileza de ordenar que a guarda
manva que me acompanha abaixe suas armas. Prometa que não
atentarás contra mim, pois não desejo apontar
armas para aquele a quem sinto gratidão.”
“Ainda estás em solo dole-mundii. Não
estou em muita desvantagem, mas considerando minha posição
atual, aceito seus termos.”
“Diga-me dole, por que os homens daqui parecem tão
assustados? Passei por várias vilas, que desprovidas
de guarnição, evidenciava medo”
“Ao norte um homem, na sua tolice, pôs fogo em
algo que desejava descartar. As chamas foram levadas pelo
vento para lá e para cá, até atingirem
uma floresta que os faachitas consideram seu território.
Consideraram que o incêndio era criminoso e decidiram
atacar. Como não havia, segundo relatos, forte resposta
do nosso lado, pode-se concluir que Caruanã está
em campanha contra os maztenas.”
Meirol voltou sua atenção
à Pedra Sácer.
“Deixe-me ver … a Pedra.”
O clima voltou a ficar tenso …contra
a vontade, voltando a olhar para aquela multidão com
o maztena e fixando o olho naquele grandalhão que era
Caldiens e lembrando-se da habilidade com punhais exibida
por Quin-Néser, o dole permitiu que o amuleto fosse
retirado de sua bolsa.
Meirol olhou espantado para aquele objeto quase sem graça,
uma pedra num formato triangular, com uma inscrição.
“O que é?” Perguntou Meirol, apontando
para a inscrição
“Segundo meu amigo Ashnaquir, trata-se do nome do deus
mundii Onarai. Ashnaquir é um Onaraitan,
um dos sacerdotes de onarai. Um tan é um “escolhido
para um trabalho especial”, assim um Onaraitan é
um escolhido para trabalhar para Onarai. Na língua
comum, Onaraitan é traduzida por Sacerdote.”
Servensaus adiantou-se e foi logo perguntando?
“Sabes porque muitos a chamam de Pedra Sácer?”
“Os maztenas chamam assim, para os mundii ela sempre
foi o amuleto do Ancianato”
Outro onaraitan, ou sacerdote, cochichou algo
aos ouvidos do dole, e este falou:
“Que fareis com o amuleto?”
“Sabes que precisamos levá-lo à nossa
tribo novamente”
“Meu senhor me matará se eu permitir isso.”
“Não tens escolha, a menos que seus 8 guardas
possam vencer nós todos. Queres tentar? Não
quero que tentes! Não quero opor-me a ti numa luta
desigual.”
O dole pensou um pouco e falou: “Meirol,
és homem de discernimento e parece haver compaixão
em ti. Faz 100 ciclos (anos) que os mundii não adoram
Onarai decentemente, e cada ano que passa se sentem mais amaldiçoados.
Dizem os relatos da época que quando a pedra era usada
Onarai se abria e permitia que os Onaraitans fizessem oferendas,
e que agora o deus fechou-se para eles. Dizem que o amuleto
dava poderes ao templo. Sinto-me curioso para ver se há
alguma verdade nisso. Porque não leva a pedra até
o templo pelo menos uma única vez, e então leva-a
de volta ao teu povo? Além do mais uma forte chuva
se aproxima … o templo nos abrigará!”
“Parece justo”
Todos foram ao templo. Lá Meirol não
vira mais a guarda no portão, e isso não o tranqüilizou.
Todos entraram e a Pedra Sácer continuava na mão
de Meirol. Andaram por um labirinto de pedras e logo estavam
numa câmara fria, com uma grande parede cheia de caracteres
estranhos.
“Foi aqui que eles se refugiaram” – pensou
Meirol, ao lembrar da história contada por Handaf,
da guerra ocorrida há cem anos e dos maztenas que recuaram
e se protegeram ali.
“Shpatan cunsil um onaraitan” Leu o sacerdote
apontando para um texto.
“A permissão é dada aos sacerdotes”
traduziu Nozeanã, o dole. “Dê Meirol, o
amuleto ao sacerdote.”
Agora quem hesitou foi Meirol, mas a curiosidade
foi superior. Entregou a Pedra ao sacerdote e quando este
colocou-a no lugar, um dispositivo foi acionado, como se ela
fosse uma espécie de chave, e logo a parede abriu-se
para o lado, como uma porta. Carcaças de animais sacrificados
sobre um altar ainda podiam ser vistas.
“Então é verdade, há uma força
neste lugar” – disse o dole maravilhado, não
percebendo que se tratava de pura engenharia.
“Não acham curioso que um SACERdote precisem
de algo que os maztenas chamam de Pedra SÁCER?. Sacerdote
na língua mundii é Onaraitan. Onarai é
o nome do deus mundii, mas também é parte da
palavra para Sacerdote. De forma que na língua comum,
parte da palavra para sacerdote é SACER. Alguém
deve ter feito tal associação ao designá-la
de Pedra Sácer.”
Todos olharam espantados. Fazia sentido. Os tans, eram ajudantes
de templo, servos dos onaraitans. Os onaraitans (sacerdotes)
eram servos de Onarai. Daí alguém falou:
“Então TAN deve significar DOTE, para completar
a palavra” – Ninguém se importou com o
comentário, somente um dole chamado Kuari.
Meirol, lembrando da invasão aos
maztenas, apanhou rapidamente a Pedra e cheio de pressa convocou
todos a saírem do lugar. Saíram todos rapidamente
e o dole tentou pará-los, mas as lanças dos
manvas falaram mais alto. Sabendo da morte que o aguardaria
por sua falha, o dole decidiu ir com Meirol. Deixaram o lugar
e andaram por vários quilômetros, até
que o líder da guarda manva perguntou através
de Aduneius para onde Meirol se dirigia.
“Para as terras maztenas”
“Então aqui acaba a obrigação de
meu senhor de Cadmon para consigo. Nossa obrigação
era de levá-lo ao leste, mas agora estás indo
para o sul.”
Meirol lamentou, pois ainda estava em solo dole-mundii, agradeceu
a ajuda manva e despediu-os.
Na demorada viagem de volta, Caruanã tinha
pressa em castigar os intrusos faachitas, “oportunistas
que esperam a tribo ficar sem defesas para atacá-la”,
segundo o pensamento dele.
Para atacar os faachitas, ele teria de pegar a
mesma estrada norte do templo, e por isso mesmo passou por
aquele lugar. Ao aproximar-se do templo, viu um mundii da
guarda templária correr em sua direção
e falar da intrusão de Meirol).
Imediatamente reuniu os homens que o acompanhava, 2000 guerreiros,
acrescentados da guarda do templo, e enviou-os aos faachitas
e lembrou de perguntar onde estava o multilíngüe.
Ouviu dos mundii sacerdotes ainda quase em transe o inteiro
relato de como a Pedra Sácer entrou e saiu só
templo, e da decisão de Noseanã de ir-se com
eles. Irritado por tamanha traição e angustiado
por ver que esse Meirol ainda estava na busca da pedra, Caruanã
ordenou que 20 batedores fossem trazê-los até
ele. Enquanto isso continuou ouvindo a respeito do que comentaram
sobre o significado da palavra Onaraitan, e nesse momento
Kuari explicou-lhe:
“Disseram que tan significa dote”
“Dote? Nosso nome tribal de outrora, que depois Jabalahal
mudaria para dole. Nós somos os tans. Eu como Tan principal,
devo ser o sumo-onaraitan.” Assim, num momento de êxtase,
Caruanã penetrou num lugar sagrado somente permitido
aos onaraitans, dentro do templo, para investigar ali algum
vestígio que apoiasse sua autodesignação.
Ele estava blefando, pois sabia que os doles nada tinha a
ver com a adoração à Onarai, mas sempre
cobiçara o cargo de sumo-onaraitan, para poder manter
os mundii sob maior controle. Sua presença ali, naquele
local sagrado permissível somente aos onaraitans, desencadeou
uma revolta dos mundii do templo, que o entregaram à
morte.
Assim morreu Caruanã, Grande Líder dos Dole-Mundii.
Quanto aos 20 que foram no encalço
de Meirol, acharam-no na vila de Suanai, às margens
do gigantesco Silivrens. Quando os viram, o grupo de Meirol
já estava embarcando para cruzar o rio, numa embarcação
obtida pelos contatos de Noseanã. Os 20 também
cruzaram o rio e entraram em solo perigoso, por onde violentos
achis ununaios mantinham guarda. Nessas terras os comandados
de Caruanã aproximaram-se do séquito de Meirol
e alvejaram com uma flecha o peito de Noseanã. Este
prostrou-se de joelhos, e ainda vivo olhou para Meirol e estendeu
o braço como se pedisse ajuda, e tombou. Esmálforas
e Quénsel, num gesto de bravura que seus corações
incitaram a cometer por seu curador, atacaram os doles e Esmálforas,
mesmo tendo o braço curto, fez um profundo corte num
dos homens, mas foi apunhalado por outro, nas costas. Quénsel
também fora morto, e enquanto os doles vinham para
matar os demais, iam tombando à medida que Quin-Néser
atirava seus punhais, até acabassem, seis punhais ao
todo. Caldiens, ardoroso lutador corpo-a-corpo embrenhou-se
na luta com sua larga espada e fez que mais três tombassem
pela força de seu braço. Os doles recuaram assustados.
Nunca viram tamanha eficiência nem nas suas mais aterradoras
batalhas. Já estavam em 11 contra oito e reavaliaram
a situação. Como derrotar aqueles dois? Parecia
impossível. Cada vez que tais lutas aconteciam, Meirol
compreendia mais porque Handaf os tinha enviado junto.
“Temos que derrubar aquele grandalhão,
porque o que lança projéteis parece estar sem
munição.” Foi a decisão que tomaram.
Assim, foram como um só corpo na direção
de Caldiens, mas os demais maztenas correram para auxiliá-lo.
E na luta que se seguiu Caldiens estava novamente prevalecendo,
mas seus amigos não ofereciam muita ajuda, com exceção
do momento em que Ninfa acertou uma pancada na cabela de um
dole que pegando Caldiens de costas, o golpearia fatalmente.
Mas no mesmo momento que Caldiens virou-se para agradecer-lhe,
eis que Ninfa estava sendo golpeado, e Alaicha também.
Ambos caíram ao solo no mesmo instante. O grito de
desespero de Meirol fora alto o suficiente para que todos
abaixassem as espadas por um segundo, depois tomados de ira,
os maztenas devastaram os doles, até que nenhum permaneceu
vivo.
Foram até os dois corpos ali jazendo ao
chão, e viram que Ninfa tinha, de fato, perecido. Ninfa
teria desejado mais a morte do que uma vida sem ajudar os
maztenas nesse problema que ele desintencionalmente desencadeou,
através de seu sócio Le-In.
Quanto a Alaicha, ainda estava vivo. Entre suas
palavras ditas com dificuldade, Bafor-Nul entendeu algumas,
e Alaicha pereceu. Ainda segurando a mão dele, Bafor-Nul
explicou:
“Ele viera conosco a pedido de Tarastir”
“Tarastir? Alaicha era nosso inimigo?”
“Ele disse que sua missão era nos atrapalhar,
não nos permitir que alcançássemos a
Pedra Sácer, para que um grupo sob o comando de Tarastir
a recuperasse no meio do caminho. Por isso ele ficou tão
perturbado quando nosso heróico inimigo levinote (apontou
para Ninfa), disse que vendera Pedra. Isso significou que
os planos de Tarastir dera errado, e só aí foi
que Alaicha percebeu um gigantesco problema. Provavelmente
sempre achara que Tarastir tinha tudo sobre controle. Ele
disse depois ‘Greiteli também’, e morreu.”
“Eu achei exagerada a insistência dele em nos
sugerir que fôssemos para o oeste, quando paramos ao
pé do pico Andeias.
“Será que Greiteli está
com Tarastir nessa trama, justo ele que deixei para trás
pra avisar Handaf? Deveria ter procurado notícias de
seus feitos ao cruzarmos as terras dos asnarlahals pela segunda
vez. Agora só uma coisa importa, que os mundii vejam
que estamos novamente com a Pedra Sácer.”
Assim, Meirol ordenou que Caldiens e Quin-Néser, possuidores
dos cavalos adejantes, cavalgassem o mais rápido que
pudessem a fim de levar a pedra à Handaf.
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